quinta-feira, 5 de julho de 2012


As Patologias Crônicas das Igrejas Institucionalizadas – Parte 1
As Mega-Igrejas



Marcio S. da Rocha
O que muitos consideram desenvolvimentos da igreja ao longo da história, eu considero que são desvios das práticas originais dos discípulos de Jesus que viveram no primeiro século. Não são poucos os cristãos que concordam comigo, incluindo escritores, líderes de igrejas e professores de seminários teológicos. Tenho visto recentemente um surpreendente número de lançamentos de livros de escritores renomados expressando sua insatisfação com as práticas das igrejas modernas. Tenho ouvido sérios pastores e líderes de igrejas reclamarem da superficialidade da vida cristã nos dias de hoje. Tenho ouvido falar de um crescente número de cristãos “sem igreja”, que amam ao Senhor, mas não conseguem conviver nas igrejas modernas. Recentemente em minha cidade, foi organizado um fórum teológico com o título “Os descaminhos da igreja”. Não é demais relembrar que houve na história da igreja diversos casos de pessoas que tiveram de sair da igreja para viver o Cristianismo. Há, de fato, uma insatisfação. Entretanto, embora muitos concordem com os sintomas das patologias das igrejas modernas, somente uma pequena minoria desses insatisfeitos consegue enxergar que há um sério problema com os modelos de igreja em que eles mesmos adotaram e defendem, com suas práticas e com a forma como vivem igreja, ou seja... com os seus odres. Pouquíssimos estão dispostos a abandonar suas poderosas organizações religiosas para reiniciar do zero; a se voltarem para o Novo Testamento com humildade e com a iluminação do Espírito Santo, e rever tudo o que lhes ensinaram sobre igreja.
Nessa série de artigos, apontaremos os holofotes para alguns dos modelos de igreja existentes atualmente, traçando um perfil de suas principais características e tentando evidenciar que não adianta tentar melhorá-los aplicando as mais novas ferramentas de administração ou de marketing. E ficará também evidenciado que todos os tipos de igrejas institucionalizadas possuem em comum o seu maior veneno: o clericarismo. Tenho um irmão em Cristo (a quem amo e respeito) que não gosta dessa palavra “modelo”. Porém, usá-la-ei aqui com o sentido científico de “uma representação simplicada da realidade”.
Primeiramente, quero dizer que posso falar sobre esses modelos eclesiásticos institucionalizados com propriedade. Converti-me com 14 anos de idade e fui membro por muitos anos de uma igreja presbiteriana de tamanho médio; participei por algum tempo de uma grande igreja pentecostal do tipo “avivada”, depois me congreguei com uma mega-igreja independente (hoje com cerca de quatro mil membros), e participei depois de uma pequena igreja de bairro. Hoje me congrego com uma igreja orgânica (primitivista), nos lares dos irmãos. Em todas essas igrejas sempre fui muito ativo, sempre tive consciência dos meus dons e posso dizer que todas elas contribuíram para a minha formação espiritual. Quero ressaltar que amo as pessoas daquelas igrejas com quem convivi, tanto os líderes quanto os demais irmãos. Portanto, o que escrevo aqui não é e nem deve ser levado para o lado pessoal.
Shopping Church Centers
As mega-igrejas são um dos exemplos de tentativas de vitaminar a igreja do Senhor Jesus com a capacidade puramente humana. Elas são dirigidas por eventos e programas, e por uma mentalidade consumista/comercial. Criaram verdadeiras boutiques e eventos para tudo quanto é de tema sociológico e/ou espiritual. Pais solteiros, 12 passos para isso, 8 passos para aquilo, geração “X”, homens de negócios, artistas, e por aí vai.
Aconselhadas por marketeiros de primeira linha, e contaminadas pelo comportamento industrial do mundo, as mega-igrejas atraem milhares de pessoas todos os domingos para seus auditórios ou anfiteatros. Seus líderes não hesitam em usar as mais novas estratégias de crescimento de igreja, os métodos organizacionais e as técnicas de marketing desenvolvidas e/ou ensinadas nas universidades seculares.
Shows Espetaculares

As mega-igrejas proporcionam espetáculos religiosos de tamanha qualidade que causariam inveja em muitos artistas do mundo. Alguns de seus instrumentistas e cantores são profissionais talentosos, pagos pela igreja. As tecnologias de efeitos visuais e sonoros usadas nos cultos são high-tech. As paredes e espaços para avisos de seus ambientes são repletas de frases motivacionais. E, como atração principal, está o carisma e a habilidade oratória de seus pastores principais.
Nos seus cultos, acontecem belas apresentações de coreografias e dramatizações. Elas organizam muitos e muitos grupos de interesse (grupos pequenos) para satisfazer as necessidades dos “clientes espirituais”.
Barato, e sem compromisso
Uma das coisas mais atraentes nessas mega-igrejas é que todo o espetáculo e serviço religioso oferecido em massa é “sem compromisso”, e com o mínimo de custo. Como não se cobram ingressos para tais shows religiosos, os freqüentadores dessas igrejas podem perfeitamente entrar e sair dos auditórios sem serem notados. Muitos são “ilustres desconhecidos” dos líderes dessas igrejas. Boa parte é visitante – um público rotativo vindo de outras igrejas ou composto simplesmente de curiosos.
Enfim, o paradigma que move as mega-igrejas é o mesmo das empresas não cristãs. Elas utilizam a cultura do marketing acreditando que com isso estão construindo o reino de Deus.
E quais são os efeitos nocivos das mega-igrejas para o Reino de Deus?
Encantamento
Infelizmente, um dos efeitos negativos que ocorrem com as pessoas que freqüentam esses grandes e organizados shopping-centers do mundo religioso é que não conseguem mais abrir espaço nos seus corações para a simplicidade e a informalidade que permeava a igreja do primeiro século. Elas ficam “encantadas” com o show. Ficam deslumbradas com as luzes, com o som e com as oportunidades de atendimento das suas necessidades e desejos espirituais. Ficam de tal modo condicionadas, que simplesmente não conseguem se sentir em casa numa igreja simples. Para elas, trocar a mega igreja por uma bíblica igreja nos lares, por exemplo, seria como trocar um super shopping por uma mercearia da esquina. Conheço uma irmã que freqüenta uma dessas mega-igrejas que me disse certa vez que seu marido (um não crente que freqüenta passivamente a igreja) afirmou que jamais quer saber de ir à outra igreja. Ela mora a poucas quadras de outra igreja de porte médio, mas vai à mega-igreja que fica muito distante de sua casa, porque assim como seu marido, a considera como a igreja ideal. Existe um tolo bairrismo eclesial nos freqüentadores das mega-igrejas.
Departamentalização
As mega-igrejas enfatizam tanto a departamentalização da igreja, que a união da igreja sofre grande perda. Focando sua atenção primariamente nas necessidades dos não crentes, essas igrejas têm falhado em discipular adequadamente os novos (e os antigos) convertidos rumo a uma vida dedicada radicalmente a Cristo.
Elas falham grandemente em nutrir relacionamentos aprofundados no corpo da igreja - a base para o discipulado efetivo. Os paradigmas comerciais que dirigem essas instituições paquidermes encandeiam a visão das pessoas impedindo-as de enxergar a natureza orgânica da igreja de Jesus Cristo.
Irrelevância Cultural
Por incrível que pareça, as mega-igrejas levantam a bandeira da relevância cultural. Defendem que o cristão deve ser relevante na sociedade, porém, elas mesmas, em seu modelo organizacional, são exatamente uma cópia das estruturas desta era. Por essa razão, elas não exercem impacto profundo ou duradouro na sociedade. É exatamente esta a observação que faz Frank Viola em seu livro Reimaginando a Igreja:
“Falando claramente, as técnicas modernas usadas pelas igrejas supermall são tão mundanas quanto o sistema do qual elas tentam libertar as pessoas. Dessa forma, o evangelho se tornou trivializado, comercializado, e esvaziado do seu poder. Tem sido diluído em simplesmente outro “produto” para nossa cultura obcecadamente consumista”.
Enfim, as mega-igrejas modernas guardam pouquíssima similaridade com as comunidades cristãs simples, dependentes do Espírito Santo, centralizadas em Cristo, dinâmicas, e participativas do primeiro século – as igrejas que verdadeiramente viraram o seu mundo de cabeça para baixo. Não dá para remediá-las. Elas precisam ser desconstruídas, para começar de novo conforme as práticas eclesiais do Novo Testamento.
http://www.igrejaorganica.net/2010/09/as-mega-igrejas-marcio-s.html

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