quarta-feira, 11 de julho de 2012


                                         O impostor                                

Por Brennan Manning


O conceito de pecado de Thomas Merton não se centra em atos pecaminosos isolados, mas fundamentalmente no ato de optarmos por uma vida de fingimento. A vida em torno do falso eu gera o desejo compulsivo de apresentar ao público uma imagem perfeita, de modo que todos nos admirem e ninguém nos conheça. “Só pode haver dois amores fundamentais”, escreveu Agostinho, “o amor a Deus, numa negligência do meu eu, ou o amor do eu, numa negligência de Deus.”


Merton disse que a vida dedicada à sombra é uma vida de pecado. Pequei em minha recusa covarde — por temer ser rejeitado — de pensar, de sentir, de agir, de responder e de viver a partir do meu eu autêntico. Recusamos ser nosso verdadeiro eu até mesmo com Deus — e depois nos perguntamos por que nos falta intimidade com ele.


O ódio pelo impostor é na verdade o ódio de si mesmo. O impostor e eu constituímos uma só pessoa. O desprezo pelo falso eu dá vazão à hostilidade, o que se manifesta como irritabilidade geral — irritação pelas mesmas faltas nos outros que odiamos em nós mesmos. O ódio próprio sempre redunda em alguma forma de comportamento autodestrutivo.


Aceitar a realidade da nossa pecaminosidade significa aceitar o nosso eu autêntico. Judas não conseguiu encarar sua sombra; Pedro conseguiu. Este fez as pazes com o impostor interior; aquele se levantou contra ele. Quando aceitamos a verdade do que realmente somos e a rendemos a Jesus Cristo, somos envoltos em paz, quer nos sintamos em paz, quer não. Quero dizer com isso que a paz que ultrapassa o entendimento não é uma sensação subjetiva de paz; se estamos em Cristo, estamos em paz, mesmo quando não sentimos nenhuma paz.


O Mestre nos diz: “Queime as velhas fitas que lhe giram na cabeça; elas o atam e o aprisionam, reduzindo-o a um estereótipo autocentrado. Escute a nova canção de salvação escrita para os que se sabem pobres. Abra mão do medo que sente do Pai e do desagrado que sente por si mesmo. O Pai das Mentiras torce a verdade e deturpa a realidade. Ele é o autor da insegurança e do ceticismo, da desconfiança e do desespero, do pensamento doentio e do ódio próprio. Eu sou o Filho da Compaixão. Você pertence a mim, e ninguém o arrancará de minha mão”.


Jesus revela os verdadeiros sentimentos de Deus em relação a nós. Ao virarmos as páginas dos evangelhos, descobrimos que as pessoas que Jesus lá encontra são você e eu. O entendimento e a compaixão que ele oferece a elas, ele também estende a você e a mim.  “Quanto maior o tempo na presença de Jesus, mais você ficará acostumado com sua face e de menos adulação necessitará, porque terá descoberto por si mesmo que ele é suficiente. E, nessa Presença, você se encantará com a descoberta do que significa viver pela graça e não pelo desempenho”.


“Se alguém confessa publicamente que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus. Assim conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos nesse amor.”


1João 4:15-16 35


Fonte: O Obstinado Amor de Deus, Brennan Manning, Mundo Cristão.




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