terça-feira, 10 de julho de 2012

A moral evangélica e o “cabaço” alheio

Por uma nova linguagem: teológica e erótica

Por Isaac Palma

A moral evangélica é casta, e seu objetivo é manter o “cabaço” alheio. E isso não apenas sexualmente, mas o status evangélico nos deixa bem longe, de sermos fecundos na prática do Reino de Deus. Meu ultimo texto, Por uma espiritualidade cheia de Tesão, pipocou na internet não pela profundidade daquilo que falei, mas principalmente pelas palavras que usei, ao fazer um paralelo entre a sexualidade e a vida cristã. Utilizei uma linguagem “profana” que não é sacralizada e nem muito comum nos corredores das igrejas. O mais interessante é o espanto que isso causa, porque toca na ferida, a igreja é mal resolvida sexualmente, prova disso é o medo de falar sobre sexo, só se fala disso quando sobre o controle dos lideres somos levados a acreditar em qualquer baboseira “espiritual” para justificar uma opressão com desculpa de (pseudo)Santidade. Negamos o sexo porque negamos o corpo, na dicotomia grega que não conseguimos largar, porque se o corpo é mal, os seus desejos são ruins, portanto o sexo expressão máxima do corpo só pode ser ruim. Se falar de sexo fora desses moldes é ruim, imagine falar de Deus a partir dessa linguagem.


Deus, está para além do que os nossos discursos possam captar ou expressar, tudo o que conseguimos é a partir de nossas experiencias dar significado a elas e interpreta-las a luz daquilo que chamamos de Deus.  As nossas linguagens partem, ou deveriam partir da nossa experiencia humana, soa no minimo estranho expressarmos Deus a partir de uma linguagem que não é nossa. E é isso que fazemos pegamos emprestado de outras culturas e tradições uma determinada linguagem de espiritualidade, de determinado período histórico, que fazia sentido para aquele povo especifico, tornamos universal e eterno, algo local e passageiro.


O mais estranho é que santificamos aquela cultura e forma de falar de Deus, e impedimos as novas linguagens e novas formas de falar de Deus. Assim negamos o corpo, o sexo e as novas linguagens. Alguns devem se perguntar : “Mas por que a linguagem erótica?” e eu devolvo a pergunta : “Mas por que não a linguagem erótica?”. Já que é uma linguagem legitima e humana, por que não usa-la?


É muito comum vermos nas igrejas referencias a vida cristã a partir do imaginário da guerra, usamos palavras como ‘batalha, guerra, vitória, inimigo, General etc” fazemos diversas referencias na nossa linguagem à experiencia da guerra. Dentro disso me chama a atenção duas coisas, primeiro nós não vivemos a experiencia da guerra, o imaginário construído em torno dessa linguagem não faz parte do nosso cotidiano, falamos dessa experiencia mas a mesma etá distante de nós, copiamos isso das paginas da bíblia que é um texto cultural e temporal. Segundo, a mensagem de Jesus é uma mensagem de paz, e não de guerra. Na verdade Cristo vai contra a violencia e a guerra, basta ler o sermão da montanha pra perceber isso. A ética da não-violência que depois foi propagada por homens como Gandhi, Marti Luther King e Tolstoi, é uma proposta que nasceu em Jesus. Tal ética é totalmente anti-guerra, como então é mais cristão usar a linguagem de guerra do que a erótica ? Já que além de não fazer parte do nosso cotidiano, remete a um imaginário contrario à mensagem do Mestre a quem dizemos seguir. Ou Cristo era contra o sexo? Ou o prazer é algo “mundano”?


É preciso repensar e recriar as maneiras de falar, por isso proponho novas linguagens, mas que sejam nossas que falem dos nossos anseios, que sejam humanas e por isso divinas. É preciso ainda ir além e ler as entrelinhas. É preciso sentir na carne antes de sistematizar, e que nossa sistematizações sejam assim como nós frágeis e  passageiras, só assim poderemos anunciar o que é Eterno.


Que nossa expectativa pelo inaudito, pelo inédito e por tudo aquilo que ainda não foi feito esteja sempre direcionada pelo Espirito de Deus que é Aquele que faz o que quer e onde quer, em detrimento das nossas vãs expectativas religiosas afinal, sopra como vento, quem sabe de onde vem ou para onde vai? Que nossa linguagem denuncie e renuncie os males da religião, nos excite, e nos encha de Tesão. Que nossa virgindade espiritual e existencial fique pra trás. Que possamos entrar de cabeça em tudo aquilo que acreditamos. Que tudo o que falarmos seja sentido na carne, esse é o apelo de Jesus e que seja o nosso constantemente.




Fonte: IDE por toda WEB

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