domingo, 29 de julho de 2012


Graça (ou algo parecido com isso)

Muito é falado sobre a Graça e suas consequências que para alguns chama-se liberdade para outros não passa de pura libertinagem.


É de bom grado que, se estamos a falar de uma das mais importantes doutrinas cristã, as especulações de suas consequências saiam do âmbito artificial no qual as críticas ao cristianismo terminaram se transformando e entrem para algo que, supostamente destaque-se – afinal é uma das muitas interpretações -, como concreto.


Ora, para se analisar qualquer tipo de doutrina seria necessário uma observação etimológica da palavra a qual a citada doutrina faz referência, deixemos essa parte de lado, todos sabem o que significa graça, é a palavra de uso-comum e é a essa definição ordinária que nos ateremos.


Para que se entenda as indignações atuais contra pastores, é necessário que se relembre um velho versículo que é citado à revelia contundentemente, Mt 10:8, a saber: “(...), de graça recebestes, de graça dai”. O estranho de um livro como a Bíblia e de seguidores como os cristãos é o fato de que, tanto faz se há estudo ou não por parte dos que o seguem, o que importa é que sigam. É como no voto obrigatório, pouco importa se o voto foi consciente o que importa é que se vote. E por conta de fatores como esses alguns pseudo-apóstolos fazem questão de pegar dois versículos à frente para justificar barbáries financeiras, o versículo descontextualizado que afirma: “(...) porque digno é o trabalhador do seu alimento” é o mais usado para a justificativa de posse de mansões em lugares paradisíacos, mas, bem... isso provavelmente não vem ao caso.


O interessante nisso tudo é: como é possível afirmar logicamente que é justificável a vida luxuosa – conquistada obviamente através da membresia eclesiástica – se logo após no versículo 8 (oito) do mesmo capítulo é feita  afirmativa de que não podem os apóstolos andarem com ouro, prata, cobre e tampouco com excesso de bens materiais? Talvez a Bíblia seja muito confusa para os apóstolos atuais, algo além da compreensão, talvez não conseguiram chegar às respostas de questões pueris e infantis como a explicação do versículo 23: “Quando, porém, vos perseguirem numa cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel, até que venha o Filho do homem.”. Talvez achem que o mundo seja Israel e tenham por interpretação que não declarar dinheiro para o governo seja a tão aclamada perseguição bíblica e estejam fugindo por outras cidades para pregar que está próximo o reino dos céus ou quem sabe não tenham lido Lc 22:36.


Ora, a doutrina da graça deve-se dividir em duas frentes. A primeira a qual já foi feita referência é aquela sobre o conhecimento que temos de Cristo e de sua doutrina, foi gratuitamente que ele nos entregou seus ensinamentos, não foi um sofista qualquer que ensinou filosofias mediante um pagamento. E aqui faço mais um parêntese para a narração do que é bastante comum em templos supostamente cristãos atualmente, uma técnica de marketing bastante eficiente ressalte-se, a pregação que se dá da seguinte maneira:


“Irmãos, estive em um congresso na cidade de (insira o nome de uma cidade americana ou européia famosa) em um grande movimento de avivamento com grandes pastores pentecostais de todas as partes do mundo. Lá, foi liberada uma nova unção missionária e oramos em cima do mapa-múndi perguntando a Deus de onde sairiam os pregadores da atualidade. Logo após essa oração, o Brasil! Irmãos, o Brasil, foi escolhido como o celeiro dos missionários do mundo e junto com essa nova unção foi liberada uma palavra que mudou a vida de todos que estavam presentes naquele congresso, essa palavra também há de mudar sua vida. É uma nova unção, nunca antes vista na igreja! Para assistir a esse congresso e a essa palavra compre o DVD por apenas R$ 10,00 na porta da igreja.”


É de extrema presunção por parte de uns filhos de mamon como esse de achar que a mensagem que foi repassada em um congresso aleatório é maior do que as que estão escritas no famoso livro de capa preta ditas por um tal de Cristo totalmente de graça com a necessidade de apenas um legítimo discípulo que de graça recebeu.


Essa mesquinhez de divulgação do conhecimento cristão é também vista quando apresenta-se a igreja e seus cultos como os detentores e oráculos do ensinamento de Cristo. Ora, se somos discípulos ou, como gostam de se auto-proclamar, apóstolos deveríamos falar somente em determinado momento e situação? Deveria ser o Evangelho citado somente quando na referência a uma igreja? E não faço menção ao ser chato quanto à evangelização, me refiro ao simples fato de que se somos realmente um templo do Espírito Santo não deveríamos citar o templo de concreto como o único detentor de informações a respeito desse tal de Espírito Santo ao qual atualmente atribui-se coisas que nunca antes fez.


A outra frente a qual a graça se refere é a salvação. Sabemos, quase que por osmose, que o sacrifício de Cristo ocorreu de graça, e aqui repito e dou ênfase: gratuitamente foi nos dada a salvação. A lógica cristã nesse sentido é simples, se por meio de um único homem todos já nascemos pecadores e consequentemente no reino da morte, por meio de um único homem o novo nascimento nos torna justificados para a vida eterna (Rm 5:17-21).


E o que afinal de contas é estar vivendo sobre a graça de Cristo, através de seu sacrifício na cruz? Nesse ponto, veremos o livro de Romanos ser utilizado da maneira que melhor aprouver tanto ao asceta quanto ao libertino. Não creio que chamar o tão aclamado equilíbrio entre essas duas formas de pensar seja a melhor maneira de observar o que vem a ser a graça.


É óbvio, pela argumentação do capítulo 6 (seis) em diante do livro de Romanos que o pecado não deve ser praticado justamente pelo fato de termos a graça como justificadora de nossos pecados. O problema é que a argumentação em qualquer lugar que se discuta tal assunto se limita a dizer isso. E o pecado? É possível definir o que vem a ser pecado com tantas pequenas regras espalhadas por igrejas diferentes e por interpretações tão aleatórias? Na prática para uma vida real de liberdade o que todos querem saber é se fazer sexo antes do casamento é pecado ou se beber constitui uma falha grave na conduta cristã ou ainda, se não entregar o dízimo te condenará ao mais ardente fogo infernal.


P.S.: O texto termina bruscamente pois tentarei fazer uma continuação sobre o pecado e consequentemente sobre a Graça e Salvação.


fonte do texto rapensando.blogspot.com.br

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